quinta-feira, 14 de junho de 2012

Rio+20 abre com pouco otimismo



A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi iniciada ontem no Rio de Janeiro sem grandes expectativas de avanços em relação à Eco-92. Até ontem, havia confirmação da participação de representantes de 186 dos 193 países-membros da ONU - a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, representará o presidente Barack Obama.

Em uma entrevista sem muito entusiasmo, os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) afirmaram no Riocentro, sede do evento, que o País chega à última etapa de negociações antes da cúpula dos chefes de Estado (que ocorre na semana que vem) com a posição de fortalecer as conquistas dos últimos anos e não retroceder em pontos conquistados na Rio-92.

Em especial, exemplificou Patriota, ter o ser humano como o centro das atenções e manter o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ou seja, todos têm compromisso com as mudanças, mas os ricos têm mais, porque historicamente contribuíram mais com a degradação doplaneta.

"Há 20 anos a crise econômica afetava os países em desenvolvimento. Agora os países que estavam na periferia trazem as respostas para a crise. A periferia virou o centro", disse Patriota em coletiva à imprensa.

Mais cedo, Izabella havia comparado o impasse atual nas negociações com o que ocorreu no ano passado durante a conferência do clima (COP-17), em Durban, África do Sul. "Fomos para Durban e todos diziam que não ia dar em nada, mas conseguimos reverter a situação", lembrou a ministra. Em dezembro último, representantes de 194 países concordaram, após exaustivas negociações concluídas no fim da conferência, em renovar o Protocolo de Kyoto para, pelo menos, até 2017.

A ONU já dá como certo que as negociações não se encerram ao longo desses três dias de reunião preparatória e continuarão até a reunião dos chefes de Estado, no final da semana que vem. Por enquanto há consenso em relação a menos de um quarto dos parágrafos do documento.

Sobre a divergência entre países ricos e pobres, um representante da ONU disse que hoje não dá mais para falar em polarização Norte-Sul nos mesmos termos que se falava na ECO-92.

"Quando se fala de Brasil, sexta economia do mundo, de China, de Índia, em que categoria eles se colocam como pobres? Claro que existe muita pobreza ainda. E há um medo dos países em desenvolvimento de serem forçados a tomar atitudes imediatas que possam prejudicar o desenvolvimento deles. É mais complicado que Norte x Sul. O mundo está muito diferente."

Os principais impasses continuam em torno do fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma) e sobre os temas dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Uma das principais apostas da Rio+20 é que a conferência possa definir áreas prioritárias para os países avançarem, como uma segunda etapa dos objetivos do milênio. Mas até a última reunião preparatória, no início do mês, em Nova York, não havia consenso nem mesmo sobre quantos deveriam ser esses temas.

Já se inscreveram para fazer discursos durante a cúpula 76 presidentes, 6 vices, 44 primeiros-ministros e 7 vice-primeiros-ministros.

Secretário do encontro quer acelerar ritmo das negociações

O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, disse estar otimista sobre os resultados da conferência, mas que "o ritmo das negociações tem de ser drasticamente acelerado". Segundo ele, a conferência deverá produzir dois resultados principais: um acordo internacional voltado para o desenvolvimento sustentável global (cujo conteúdo segue indefinido, dependendo das negociações) e um compêndio de metas e projetos voluntários nacionais, assumidos por organizações civis, empresas e governos interessados em contribuir para o desenvolvimento sustentável.

As negociações começaram nesta quarta-feira e seguem até o dia 22, quando um documento final detalhando todas essas decisões deverá ser aprovado numa plenária final. "Estamos no primeiro passo de uma longa maratona", disse Zukang, durante a de abertura da conferência, ao lado do embaixador e negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado.

Zukang disse que o documento final da Rio+20 não será um "instrumento legal", mas será um acordo "politicamente vinculante", o que significa, na prática, que os países não terão obrigação legal de cumprir o que for estipulado no documento, mas assumirão um compromisso político de fazê-lo perante a ONU.

Um dos principais temas em discussão na conferência é quem vai financiar os investimentos necessários para fazer uma transição para uma economia verde. O embaixador brasileiro confirmou que o G-77 mais China, do qual o Brasil faz parte, tem uma proposta para a criação de um fundo internacional de US$ 30 bilhões ao ano para financiar esse processo.

Figueiredo disse que a Rio+20 é "fundamentalmente diferente" da Rio-92, no sentido de que o objetivo principal não é produzir novos tratados internacionais, mas garantir que o que já foi acordado 20 anos atrás seja de fato colocado em prática. "Não acho que precisamos de novas legislações. Precisamos implementar aquilo com o que concordamos em 1992", disse. "Hoje temos muito mais informações (do que 20 anos atrás) e portanto temos melhores condições de agir."

Dilma Rousseff pede sustentabilidade

A Abertura oficial do conferência Rio+20 foi feita pela  presidente Dilma. Em discurso, ela pediu o compromisso de todos os países na busca pelo desenvolvimento sustentável. Dilma pressionou as nações desenvolvidas, que apesar da crise, não atingiram suas metas de sustentabilidade.

"Não consideramos que o respeito ao meio ambiente só se dá em fase de expansão do ciclo econômico. Pelo contrário, um posicionamento pró-crescimento, de preservar e conservar é intrínseco à concepção de desenvolvimento, sobretudo diante das crises", afirmou.

Dilma ressaltou que "o ambiente não é um adereço, faz parte da visão de incluir e crescer porque em todas elas nós queremos que esteja incluído o sentido de preservar e conservar". Para ela, os compromissos apresentados durante a Rio+20 foram assumidos "voluntariamente". "Consideramos que a sustentabilidade é um dos eixos centrais da nossa conviccção de desenvolvimento", destacou. A presidente estava acompanhada dos ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Antonio Patriota (Relações Exteriores), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Aloísio Mercadante (Educação), Ana de Holanda (Cultura) Edison Lobão (Minas e Energia), Helena Chagas (Comunicação), Gastão Vieira (Turismo) e Marco Antonio Raupp (Ciência, Tecnologia e Inovação).

Além deles, estão presentes à cerimônia o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, o governador do Rio, Sérgio Cabral, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e Mauricio Borges, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), organizadora do Pavilhão Brasil, onde ocorreu a cerimônia de abertura.

EUA fecha as oportunidades para emergentes

A rodada de negociações preparativas iniciada ontem, a última antes das reuniões da semana que vem na Rio+20, evidenciam as divergências entre os países em temas-chave da conferência ambiental. O rascunho do acordo final da conferência tem entre seus objetivos melhorar a segurança energética, alimentar e de água em países pobres, além de reduzir a dependência global dos combustíveis fósseis e reforçar a proteção dos oceanos. Mas, faltando poucos dias para o fim das negociações, apenas 20% do texto foi acordado entre os países signatários.

Uma fonte próxima às negociações disse à BBC que os representantes dos países têm discutido a pontuação do texto, em vez de seu conteúdo. A conferência Rio+20 é vista como uma oportunidade crucial para que líderes globais deem um rumo mais sustentável à economia global.

O rascunho do acordo - entitulado "The Future We Want", ou O Futuro que Queremos, está cheio de trechos suprimidos, muitos deles a pedido dos EUA e de países em desenvolvimento como a China. Rússia, Japão, União Europeia e outros blocos também fizeram objeções a cláusulas-chave.

O rascunho foi criticado por alguns por ser muito leniente com o setor privado, em especial bancos e corporações ligadas à produção de commodities."A Rio+20 não trará o futuro que queremos, mas sim servirá como um lembrete cruel do presente que temos", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo da Greenpeace Internacional. "Um mundo em que a saúde pública, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável são subordinados ao lucro privado, a interesses nacionais rasos e ao 'business as usual'."

Também há divergências quanto às propostas de metas de desenvolvimento sustentável (SDGs, na sigla em inglês), cujo objetivo é aliviar a pobreza global e melhorar as condições de saúde, educação e laborais em países em desenvolvimento, seguindo linhas sociais e ambientalmente sustentáveis.

Algumas agências humanitárias temem que essas divergências resultem no esvaziamento dos compromissos dos países no combate à pobreza, previstos nas Metas do Milênio (compromissos estabelecidos pela ONU para temas como saneamento e saúde).

Tampouco há acordo quanto a se os SDGs devem forçar os países desenvolvidos a controlar seu consumo de recursos naturais, deixando mais recursos aos países pobres.

Num artigo amplamente divulgado, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, atualmente diretor da organização ambiental Green Cross International, citou o contraste entre o clima de "otimismo e esperança" da Eco-92, realizada 20 anos atrás, e o ambiente de "cinismo e desespero" da Rio+20.

"Dá amargura ver as enormes diferenças entre ricos e pobres, a irresponsabilidade que levou à crise financeira global, as respostas fracas e divididas às mudanças climáticas e a falência em cumprir as Metas do Milênio", disse ele. "A oportunidade de construir um mundo mais seguro, justo e unido está sendo amplamente desperdiçada."

As oito rodadas de diálogos preparatórios formais e informais da Rio+20, desde o início do ano, foram marcadas por problemas de conteúdo e de forma.Algumas nações ocidentais, especialmente os EUA, não parecem dispostas a ceder em qualquer aspecto que possa beneficiar rivais emergentes.

Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/rio-20-abre-com-pouco-otimismo/222887

Nenhum comentário:

Postar um comentário